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Paracambi,20/05/2024

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Ruas com entulho, manifestação com agressão e ajuda de ator: enchente há cinco dias ainda gera caos em Paracambi

Cidade tem uma das maiores enchentes de sua história e água subiu cerca de dois metros de altura, atingindo teto de casas


Ruas com entulho, manifestação com agressão e ajuda de ator: enchente há cinco dias ainda gera caos em Paracambi O Globo

Cinco dias após a tempestade que arrasou parte da Região Metropolitana do Rio na madrugada de quinta-feira, áreas da cidade de Paracambi, na Baixada Fluminense, ainda têm entulho e lama nas ruas, o que tem gerado revolta da população. A crise no município chegou ao auge da tensão na noite de domingo, quando uma manifestação de moradores dos bairros da Capineira e BNH teve uma pessoa agredida e um homem apontando a arma para a população. Nesta segunda-feira, o ator Rafael Cardoso, que já foi protagonista de novelas da TV Globo, entrou na campanha de arrecadação de doações.

— Só não perdi a bicicleta e o ventilador. A geladeira estou esperando uns dias para secar e testar. De resto, perdi tudo — conta Deivilin Theodoro, de 43 anos, morador do BNH.

Theodoro estava trabalhando quando soube por vizinhos que a casa já estava alagada. Quando a água chegou na altura da cintura, desistiu de salvar os bens e saiu do imóvel para sobreviver. Naquela noite, ajudou vizinhos idosos a deixarem suas residências e foi conferir os estragos no dia seguinte. Nos últimos dias, está dormindo na casa de familiares.

— Do meu bairro, quem não perdeu tudo, perdeu 90% das coisas. Só tenho uma cadeira de praia para ficar sentado. Pode parecer contraditório, mas agora é ter fé em Deus para recuperar meus bens — contou.

O entulho nas ruas que ainda não foi retirado completamente é justamente móveis, roupas e alimentos das famílias que foram destruídos na enchente. Em 4h, choveu 134,4 mm — de acordo com a administração municipal, o esperado para todo o mês de fevereiro. Com o alto volume de chuva, o Rio dos Macacos transbordou. Ruas e casas ficaram completamente alagadas em diversos bairros da cidade. No BNH de Baixo, o mais atingido, o nível da água chegou a 2 metros de altura, alcançando o teto de diversas casas, lojas e veículos. Moradores e comerciantes perderam tudo.

Na manhã de segunda-feira, uma moradora contou numa rede social que precisava da rua limpa para voltar à vida normal. “Já basta resolver as coisas da nossa casa que não está fácil. Ontem (na manifestação), a gente foi tratado como bandido. E a gente é trabalhador”, contou a moradora, chorando. “Só o que eu quero é que limpe a rua”, pediu. A rua em que ela mora só teve os entulhos completamente retirados na noite desta segunda-feira. Assim, carros puderam voltar a passar na lama.


Arma na mão

No momento de maior tensão, manifestantes na Capinheira e BHN atearam fogo em montanhas de entulhos e fecharam ruas exigindo a limpeza da área, uma das mais afetadas pela cidade. Num vídeo que circula nas redes sociais é possível ver um homem armado afastando as pessoas de um carro. Gravações do mesmo momento feitas de outro ângulo mostram um outro rapaz empurrando com violência Paulo Henrique da Silva, de 58 anos, que estava na frente do veículo. Tudo aconteceu na frente de policiais militares. Nas imagens, não é mostrada qualquer reação dos agentes.

Ao GLOBO, Marcelo Kossuga, advogado que representa o homem flagrado empurrando a vítima, afirmou que o carro havia sido confundido com o veículo da prefeita da cidade, Lucimar Ferreira, e passou a ser alvo de hostilidades. Segundo seu representante, ele estava com a mulher e a irmã dentro do veículo e, com medo, afastou Paulo com um empurrão, que caiu e teve escoriações no braço.

— Meu cliente já morou em Paracambi, hoje atua como empresário em Angra dos Reis. Ele estava na região para levar doações às pessoas atingidas pela enchente — afirmou.

Na manhã desta segunda-feira, Marcelo Kossuga e Erik Pereira, advogado do agredido, se reuniram e construíram um “termo de esclarecimento”. Também ficou acertada uma reparação a Paulo. Ele perdeu tudo em casa durante a enchente, e o homem que o agrediu se comprometeu a comprar novos móveis.

O homem armado afastando moradores de perto dos veículos ainda não foi identificado. A prefeitura da cidade afirma que não sabe de quem se trata e que Lucimar esteve no local antes do incidente, mas já havia saído do local quando houve a agressão e as ameaças.

Em nota, a PM do Rio não informou se identificou o homem. Segundo a assessoria de imprensa da secretaria, o comando do Comando de Policiamento Rodoviário (CPRv) já instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para averiguar as circunstâncias do fato, e os policiais envolvidos na ocorrência serão ouvidos nesta terça-feira.


Onda de solidariedade

O caos gerou uma onda de solidariedade. Igrejas de diferentes denominações religiosas estão fazendo campanhas de doações para ajudar os desassistidos. Nesse primeiro momento, há uma vasta distribuição de quentinhas já que as famílias até receberam cestas básicas da prefeitura, mas não têm onde cozinhar.

De passagem pela cidade, o ator Rafael Cardoso, protagonista de novelas da TV Globo como “A vida da Gente”, chegou a gravar um vídeo numa igreja católica do Centro da cidade pedindo doações. “Aqui é um vale, ficou tudo inundado, lama demais. Está precisando de material de limpeza, fralda. Está uma calamidade pública. A rua está pura lama. Aqui era asfalto normal. Cesta básica, água, roupa, quem puder ajudar. O pessoal da paróquia está trabalhando noite e dia”, afirmou o ator no vídeo.

Num dos apelos de doação, a Paróquia São Pedro e São Paulo, no Centro da cidade, pediu água potável por temer o fim do estoque. Comida, materiais de limpeza, roupas, fraldas e ajuda em dinheiro também estão sendo recebidas pela igreja e outros centros comunitários. Outra mobilização envolve moradores da cidade que estão se articulando para oferecer serviços gratuitos, como o reparo de móveis possíveis de serem salvos e até atendimento psicológico para os afetados.

Ao GLOBO, a prefeitura informou que “está com toda a força de suas equipes nas ruas e ainda conta com a parceria com o governo do Estado e com o Exército e a Marinha, totalizando mais de 70 equipamentos, como retroescavadeiras, caminhões e caminhões-pipa, limpando toda a cidade”. No entanto, informou que ainda não tem previsão de quando conseguirá abrir todas as ruas de entulhos. A assessoria de comunicação da prefeitura também informou que não tem os números atualizados de desabrigados e desalojados.

Também informou que “a Secretaria de Ação Social vem acolhendo as pessoas impactadas, oferecendo alimentação, cestas básicas e recebendo doações diversas de igrejas e da sociedade civil” e que nesta quarta-feira haverá uma caravana das secretarias do estado, do Detran-RJ e da Justiça, com dezenas de serviços para apoiar a população atingida na recuperação de documentos e no acesso aos seus direitos.




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